[contact-form-7 404 "Não encontrado"]

Schedule a Visit

Nulla vehicula fermentum nulla, a lobortis nisl vestibulum vel. Phasellus eget velit at.

Call us:
1-800-123-4567

Send an email:
monica.wayne@example.com

O que podemos fazer antes do adeus definitivo

6 anos atrás · · 3 Comentários

O que podemos fazer antes do adeus definitivo

O que podemos fazer antes do adeus definitivo?

Este artigo retrata uma realidade que dificilmente queremos encarar. No final transcrevo uma carta linda e de teor emocionante.

Acredito que todas as pessoas deveriam lê-la, senão por outros motivos, apenas para lembrar que as pessoas queridas não morrem!

Elas permanecem vivas para sempre em nossa memória!

Muito amor, carinho e a construção de um bom relacionamento serão importantes para que as lembranças sejam positivas, agradáveis e isentas de culpas.

A morte do sogro

Ele foi levado para emergência às 08:00hs, e às 10:00hs recebemos a noticia de que havia falecido. A morte em um hospital é sempre uma situação nova para qualquer família. Perguntei no serviço de enfermagem como seriam os tramites dali para frente e fomos informados que teríamos que esperar até que o médico fizesse o atestado de óbito.

Pouco antes do meio dia, sem que tivéssemos informação alguma, fui até a enfermagem e perguntei pelo atestado de óbito. – “Ainda não foi expedido” – foi a resposta seca da enfermeira.

Minha cunhada, considerada meio maluca por toda a família, olhou para mim e confidenciou que achava que haviam perdido o corpo de seu pai. Diante de tal suspeita ilógica, eu propus a ela que fossemos procurar o corpo dele.

A Constatação do óbvio

Andamos pelos elevadores e corredores até chegarmos ao necrotério. Como ninguém guardava a porta, entramos. Não precisamos procurar muito, o corpo do meu sogro estava sobre uma mesa metálica, nu e coberto apenas por um lençol branco da cintura para baixo.

Ficamos indignados com o abandono, cheguei perto e fiquei emocionado ao vê-lo deitado naquela mesa fria, pálido e sem vida, um resto daquele homem ao qual eu visitara uns dias antes e conversara por cerca de 30 minutos.

Eu estava olhando para ele e me culpando por não ter lhe dado mais atenção, ele gostava muito de conversar comigo, tinha poucos amigos e sentia falta de alguém com quem pudesse colocar os assuntos em dia.

Neste momento, provando que os irreverentes muitas vezes tem razão, minha cunhada falou a coisa mais lúcida, sensata e coerente que fez durante sua vida até aquele momento: – “Nossa! Não é mais meu pai! É só um corpo frio e sem vida!

Era a mais pura verdade. Aquele corpo não era mais nada! Seu antigo dono, homem possessivo e de poucas palavras, cheio de virtudes e defeitos, amado e respeitado por sua esposa, três filhas, três genros, duas netas e um neto, não estava mais ali. Não poderia mais receber nossos pedidos de desculpas pelas visitas que não fizemos para ele, em casa ou no hospital. Nem mesmo poderia ouvir os choros e lamentos que teria sobre seu caixão.

Naquele momento, olhando agora para o corpo pouco representativo do que fora em vida, o céu caiu sobre minha cabeça. Mesmo sendo agnóstico e não acreditando em vida após a morte, fiquei impressionado com o fato do desaparecimento do meu sogro. Onde fora parar toda aquela vida? Aquela personalidade forte e centralizadora? Aquele senso de justiça que chegava a incomodar? Aquela voz? Aquele olhar? Aquele modo de ser peculiar…

De repente visualizei algo que embora soubesse, nunca tinha pensado mais pausadamente – ele viveria para sempre em nossas memórias! Descobri que as pessoas amadas não morrem, vivem para sempre em nossas lembranças. Só que não temos mais oportunidade de encontra-las; de interagir com elas; de nos desculpar ou de modificar qualquer coisa!

Reclamamos e o atestado de óbito saiu rapidamente. Programamos o enterro para o dia seguinte e até o final dele eu não pensava em outra coisa. Aquele conjunto de idiossincrasias da qual ele era formado, e que, segundo as minhas crenças antigas teria acabado, de  repente eu sabia! Agora eu sabia, viveriam para sempre em nossa memória…

Toda aquela vida, aquela personalidade forte e centralizadora, aquele senso de justiça que incomodava, aquela voz, aquele olhar e aquele modo de ser peculiar, continuava vivo nas mentes das pessoas que o conhecera e as quais o amou.

Todas as boas lembranças vinham carregadas de bons sentimentos, mesmo os momentos vividos com ele que não foram muito agradáveis, traziam lições que podiam ser aproveitadas no dia a dia. O orgulho por ter convivido momentos produtivos e agradáveis se alternavam com momentos em que as lembranças não davam nenhum prazer. Porém ficaram! E ficaram também os arrependimentos de não ter dito o que deveria ser dito e do que foi dito de forma inapropriada num tom inadequado ou no momento errado.

Mesmo sem fechar os olhos, aquela vida estava presente no meu cérebro nas minhas lembranças. Agora com muito mais clareza, mesmo sem fechar os olhos eu podia vê-lo da forma que ele era. Talvez até entender melhor os seus pontos de vista sobre alguns assuntos dos quais ele tinha uma opinião formada e irredutível.

Outras lembranças

Lembrei do falecimento do meu pai ocorrido quase vinte anos antes. Ele também ainda estava vivo em minha memória. Desde quando eu era criança e o via como um super homem, grande e forte. O homem mais poderoso do mundo, capaz de nos proteger, a mim e aos meus irmãos, de forma indubitável e inquestionável. Desde quando eu era adolescente e o considerava fora de moda, “quadrado”, como se dizia na gíria da época, antigo e de ideias retrogradas. Desde que me tornei adulto e passei a considera-lo um sábio, capaz de criar sete filhos de forma a torna-los homens e mulheres de bem. Nenhum drogado ou drogada! Nenhum bandido. Nenhum marginal!

Lembrei e ainda lembro sua “Radio vitrola”, um móvel enorme que tocava discos em 78 rotações, que ele comprara de segunda mão com músicas clássicas que iam de Beethoven a Mozart, e algumas musicas antigas como “Pobres de Paris”, cantada por um francês com nome polonês, que ninguém conseguia falar o nome.

Todas aquelas lembranças ainda estavam vivas em minha memória. Não como eu queria que fossem, mas como eram na realidade nua e crua. Cheia de bons momentos e também de brigas e discussões cujas motivações para essas brigas, desde que ele falecera, podiam ser vistas como sem a menor importância, pareciam irracionais, sem nexo, que claramente poderiam ter sido resolvidas muito mais racionalmente e menos emocionalmente.

Uma nova atitude

A partir da morte do meu sogro, passei a valorizar mais a presença da minha mãe que já estava com 77 anos. A visitava, religiosamente, todos os finais de semana. A casa dela era um ponto de concentração da família, filhos, netos, primos e primas.

Procurei melhorar em muito o nosso relacionamento, sempre imaginando que quando ela falecesse eu teria uma imagem muito melhor, dela, de nossas conversas e dos momentos agradáveis que passávamos juntos. Não queria ficar com nenhuma culpa ou lembrança ruim. Sempre atendia os seus pedidos, na maioria simples: comidas, livros e quaisquer outras coisas que ela pedisse, mesmo que fosse sem nexo como uma Bíblia bilíngue em português e inglês que ela pediu embora ela não falasse nada no idioma, pedi ao meu filho para comprar uma em Londres e assim que ele a trouxe nas férias, eu a levei para ela.

Quando minha mãe faleceu aos 90 anos, eu estava em Londres com meu filho. Quando viajei quinze dias antes ela já estava hospitalizada, faleceu e foi sepultada um dia antes de minha volta. Neste dia meu filho não foi para escola e ficou comigo o dia inteiro, fizemos um brinde a ela em um bar em Nothing Hill. Enviei remotamente uma coroa de flores e me senti aliviado por ela finalmente se livrar das dores e sofrimentos que teve nos seus últimos dias.

Não senti nenhuma culpa, embora ela fosse uma pessoa difícil, todas as lembranças que haviam ficado dela, exceto dos períodos em que ela estivera doente, eram e ainda são, boas e agradáveis.

Ela continuou e continua viva na minha memória, assim como nas fotos e vídeos que fiz dela antes de seu falecimento e, na grande maioria, todas as lembranças continuam sendo agradáveis.

Hoje, tenho como norma, manter os relacionamentos com as pessoas que gosto em um nível saudável e respeitoso. Depois que descobri que as pessoas não morrem para quem as ama, quero sempre o melhor delas junto comigo… Enquanto eu viver… Das pessoas que deveria gostar mas não gosto, procuro me afastar para não ter um relacionamento conturbado.

…E você? Se um dos seus entes queridos partisse hoje, como essa pessoa estaria em sua memória? Será que as lembranças agradáveis seriam maiores que as ruins?

Mas fique em paz, ainda da tempo de mudar tudo…

A carta

A carta que transcrevo abaixo é de um dos meus pacientes que teve sua mãe falecida quando ele tinha 15 anos. Hoje, aos 32 anos ele precisou fazer terapia para, entre outros desconfortos psicológicos, melhor elaborar a perda dela e passar a ter uma vida mais plena com mais felicidade.

Por não ter o conhecimento ou simplesmente não prever (ninguém prevê) o falecimento dos entes queridos, seu sofrimento por longos anos foi cercado de culpa por não visita-la no hospital quando ela se internou para fazer uma cirurgia do coração e não mais voltou. Embora fosse um ótimo filho, não previu que sua mãe estaria viva para sempre… Só que na sua memória… Sem nenhum fato novo. Apenas nas boas e más lembranças existentes!

Hoje, seis meses após o início de sua terapia, ele ainda tem alguma dificuldade em expressar seus sentimentos e, talvez, ainda tente esconder suas emoções, mesmo com a esposa e familiares, porém, sinto que ele conseguiu se perdoar… Aliás, perdoar não a ele, mas perdoar o garoto que ele era quando ela faleceu.

Vamos a ela…

“Oi mãe!
Nossa! É tão difícil escrever essa carta, pensei um milhão de vezes em como começar, é tanta coisa para falar que pareço uma criança querendo dizer tudo de uma vez e na verdade não dizendo nada.

Tanta coisa aconteceu, tanta coisa que gostaria de fazer junto contigo, tanta ajuda que precisei, mas a vida nos pregou uma peça, lembro daquele dia exatamente como hoje, você estava de calça jeans, camiseta branca e jaqueta, cabelos pretos na altura dos ombros e com uma sacola nas mãos. Me disse que ia fazer uma cirurgia, mas que voltava logo, para eu ser obediente, cooperar com meu pai e minha irmã, eu estava desenhando um homem aranha, algo que desenho com frequência, acho que é a única coisa que eu consigo fazer que me deixa próximo e me leva de alguma forma até você, mas enfim, quando nos despedimos, eu te pedi uma coisa…

Para você voltar!
 

Você disse que voltaria…!!!!

Dias se passaram, eu me recusei a ir ao hospital, o pai a Ana (irmã), me cobravam muito de não ir lá, queria ter escutado eles, queria ter ido mais vezes. Porém, estar lá naquela UTI te ver só um pouco apenas, me deixava triste e fraco, era uma visão que eu não queria ter de você, e outra, você tinha prometido que iria voltar.

Teve um dia, mais precisamente um sábado, não fui te visitar, queria ficar jogando “bola” com o Alexandre, ficamos a tarde toda jogando bola quando meu pai chegou, ele estava com cara de decepção, me dizia que você estava muito triste comigo porque eu não fui te ver, mas que a senhora entendia o porquê, sabe mãe eu me pergunto, e muito, por que não fui te visitar tanto? A Ana ia todos os dias praticamente, ela simplesmente pegava o metro e ia … sozinha! Hoje tenho inveja disso! Ela deve ter tido vários momentos e conversas com a senhora que eu nunca tive!

Engraçado, eu nunca fiz um desenho para a senhora! Antes da senhora se internar, lembro que um aluno fez um palhaço chorando pra você e quando a senhora se despediu da classe, guardou esse desenho no seu armário! Como eu queria ter feito inúmeros desenhos que a fizesse ter a mesma postura ou sei lá…

Depois da cirurgia, lembro que cheguei em casa da escola e a Tia Denise estava muito feliz, tinha acabado de vir da UTI, a senhora estava bem, falando, conversando… Foi a última vez que alguém escutou sua voz! Me faz chorar por que lembro pouco da sua voz, mesmo tendo ouvido muitas vezes brigando com o menino levado que fui. Depois desse dia fui inúmeras vezes te ver, não tanto como deveria, te via deitada sentindo dor às vezes a sensação era de angústia, ou tristeza, aquilo doía, dói ainda, lembrar machuca, a senhora sempre foi e sempre vai ser a pessoa mais forte que eu conheço, que conheci! Tantas batalhas! Tantas guerras e ali estava!

No “ultimo” dia das mães, estávamos todos no quarto do hospital, Jonas, João, Vó Maria, Ana e meu pai, a enfermeira foi fazer um procedimento, a senhora abriu os olhos! Todos corremos e a chamamos, mas nada mudou. Lembro da vista do quarto do hospital, dos prédios em frente a janela, lembro que brincávamos, ficávamos olhando-os e pensando em quando você saísse dali iriamos dar risadas de tudo. Em meio a tudo isso o nosso sonho da casa da família estava sendo construído. Na época era engraçado  ver a Ana contando para a senhora, mesmo desacordada, de como as coisas estavam sendo feitas, as escolhas de piso, janela, portas e a cor da casa, engraçado na época, hoje eu choro ao lembrar, por que nem na sua mão eu segurei!

Depois disso tudo veio a parte que nos desligamos, no almoço, estávamos todos reunidos, depois de muito tempo, Ana, pai, Vó Inez e Tia Denise, quando recebemos a notícia do hospital… Dia chuvoso, cinza, frio, não sabia o que fazer, corri em desespero para o portão e fiquei na chuva, meu pai foi chorar no banheiro e não lembro de mais nada.

Lembro que meu pai pediu para a Ana ficar de olho em mim para não fazer nenhuma besteira, e não lembro mais de muitas coisas, velórios, pessoas, somente do meu pai de fora do velório e longe de mim e da Ana, mas foi difícil.

As coisas foram difíceis mãe, sua presença fazendo ausência em todo lugar, as viagens acabaram, os almoços, os jantares, os aniversários surpresas. como faz falta tudo isso… Todos reunidos, não só perdi a senhora mas perdi tudo, sinto falta da senhora…tudo que a senhora sempre proporcionou e tenho certeza que iria proporcionar, lembro quando a senhora me disse que queria conhecer minha namorada que ia sentir muito ciúmes dela ou quando fazia uma voz doce pedindo um neto, gosto de lembrar de nós dois desenhando na cozinha, sujando a mesa, mas só até a hora do jantar, porque a senhora tinha que preparar tudo, lembro dos salgados, dos bolos, das tardes de carinho, e aquele dia que saímos para dirigir e a senhora me disse que seria um ótimo piloto porque era um perfeito copiloto!

Às vezes realmente eu sonho que estamos um algum lugar verde, calmo, eu sentado do seu lado e contando tudo que aconteceu, tudo que que a senhora “perdeu”, mas não com raiva por não estar aqui, mas como uma nostalgia, a senhora ria, ficava brava, mas sempre me abraçava.

Sinto, às vezes, que a senhora pode bater na minha porta dizendo: – olha voltei vamos atrás de tudo que perdemos! Viajar, tomar cerveja – eu lembro que tomava um copinho – rir muito, desenhar, pintar, andar de mãos dadas no shopping, ir no cinema, ir ver a Vó Maria e visitar a casa da Ana!

Eu só gostaria de mais 1 dia… Matar a saudade, não sei muito bem o que iriamos fazer, fico fazendo planos, vamos para praia, vamos cozinhar, jogar muita conversa fora, ou apenas fazer nada.

Ontem, hoje e sempre eu irei te amar… Irei pensar na senhora, e dizer mais uma vez que te amo. Em meus sonhos e pensamentos irei conversar e pedir seus conselhos. Muitos beijos em seu coração minha mãe querida, minha rainha!”

 

Denival H Couto – Psicólogo e Terapeuta

CRP: 06/17.798-SP

Tags: , , , , Categorias: Relacionamentos

Denival Couto

Denival Couto

Denival Couto; Psicólogo e Terapeuta, formado em 1980, iniciou sua atuação clínica em 1983. Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, Processual e na abordagem Fenomenológica Existencial. Possui vários cursos de especialização e pós graduações, inclusive em Propaganda e Marketing.

3 Comments

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.